O possível afastamento da presidente Dilma Rousseff em decorrência da crise política brasileira, em maio de 2016, oferece um quadro de variáveis a serem consideradas para o país até 2018. Iremos nos deter na questão específica do MERCOSUL.
A possível ascensão do senador José Serra (PSDB) pode ocasionar uma guinada considerável nos rumos da política externa brasileira, com reflexos sobre o MERCOSUL, caso se confirme a sua liderança nas relações exteriores e no comércio exterior no governo Temer (PMDB). Aspecto que seria emblemático no ano em que o bloco sul-americano completa os seus vinte e cinco anos de existência sob severa crítica de setores empresariais e da mídia brasileira.
Sintomático que aqueles que criticam a “ideologia” da política externa dos governos petistas ― como se fosse possível uma política externa “a-ideológica” ―, cogitem indicar um quadro essencialmente político e sem vinculação com a pasta (e sem conhecimento técnico). Deve-se lembrar que durante os governos Lula e Dilma todos os chanceleres eram diplomatas de carreira. A indicação de Serra traz elementos ideológicos controversos de um pragmatismo tecnocrata e uma inserção internacional subordinada.
No curto prazo é possível traçar um panorama importante do que representará a liderança de José Serra à frente de uma pasta que envolva a diplomacia e o comércio para o MERCOSUL. Isso pode ser visualizado pelas declarações do senador no Senado Federal. Em março de 2015, por exemplo, o senador declarou que “O Mercosul foi um delírio megalomaníaco, e olha que atravessou vários governos, que pretendeu promover uma união alfandegária entre Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai. Sabe o que é uma união alfandegária? É uma renúncia à soberania da política comercial”.
Mas à frente disse que “O Brasil está, isoladamente, defendendo a posição hoje mais ortodoxa e reacionária em matéria de comércio internacional. Isso só tem uma vantagem: exime o Itamaraty de trabalhar – opa, para o Ministério do Desenvolvimento e para o Itamaraty, é uma folga, porque fazer acordos bilaterais de comércio dá muito trabalho”[1].
Logicamente sabemos que a retórica é importante para se alcançar os objetivos políticos e que o partido político do senador José Serra defende interesses políticos e econômicos empresariais específicos e até mesmo antagônicos, no qual o MERCOSUL não é necessariamente uma prioridade.
Certamente o fim ou o desmantelamento do MERCOSUL não será possível, como o senador almeja por meio de sua retórica, mesmo refletindo o anseio de alguns setores empresariais, em decorrência do nível de institucionalização alcançado pelo bloco e do comércio durante esse primeiro quarto de século. Por outro lado, tais declarações refletem o estado de ânimo que será colocado em prática no governo Temer, sob a batuta de José Serra, em relação ao MERCOSUL.
Se a dinâmica comercial não alcançou os resultados esperados por alguns segmentos do empresariado brasileiro ― mesmo que os dados do comércio intra-regional demonstrem o contrário ― é preciso ter em mente a dimensão geopolítica do MERCOSUL para os interesses estratégicos brasileiros.
[1]Cotado para o Itamaraty, José Serra considera Mercosul um ‘delírio megalomaníaco’. http://www.brasilpost.com.br/2016/05/03/serra-mercosul-delirio_n_9829396.html 03/05/2016
http://wp.ufpel.edu.br/geomercosul/2016/05/05/analise-de-conjuntura-012016-o-mercosul-e-os-seus-novos-desafios/