O romance de Ernest Hemingway chamado “Por quem os sinos dobram” é um dos livros (“Masterpiece”) mais interessantes do autor norte-americano. Virou até filme. Em um dos capítulos do livro que se passa durante a Guerra Civil Espanhola, Robert Jordan, o “mocinho”, escuta de uma “camarada” republicana a história da invasão de uma cidade dominada pelo fascistas (adeptos do Gal. Franco).
Conta a “Camarada” a Robert Jordan que durante a invasão republicana à cidade, todos os fascistas foram aprisionados em uma Igreja e “condenados” à morte. Sem julgamento, sem nada. A execução não ocorreria através de fuzilamento, mas sim através de um linchamento (“corredor polonês”) cujo fim seria um penhasco. Toda cidade participaria.
Todos os condenados (fascistas) após as sevícias seriam jogados de um penhasco, vivos ou não. Quem fez isso? Os republicanos, a “esquerda”. Apesar de ser um romance, Hemingway foi reamente correspondente jornalístico durante a Guerra Civil Espanhola. Seus biógrafos apontam que muitos dos seus livros retrataram suas experiências reais. Mas o que nos interessa são as “bases filosóficas” do capítulo assinalado.
A “desculpa” para esse tratamento bestial era que os fascistas faziam o mesmo com os prisioneiros republicanos ou simpatizantes. Mas pensando de maneira lógica, ao utilizarem tal expediente eles não se igualavam aos fascistas? Qual seria a diferença entre os republicanos e os franquistas?
O assasinato de Khadaffi me fez lembrar este capítulo de Hemingway. Os “rebeldes” que começaram a fazer os seus atos de banditismo ao melhor estilo “coronel Khadaffi” (já existem várias denúncias contra os “defensores da liberdade” rebeldes), não se preocuparam em marcar a diferença entre o ditador e eles. Atuaram de maneira igual. Tornaram-se iguais ao antigo ditador.
O ocidente cristão que de “cristão” não tem absoluta nada, “saudou” a morte de Khadaffi em lamentáveis condições como se eles mesmos não o tivessem apoiado e patrocinado durante os últimos 40 anos. Repito: reproduzir o modus operandi das ditaduras não nos faz diferentes delas, mas iguais.
Por que Osama Bin Laden e Khadaffi não puderam responder pelos seus crimes? Os nazistas que provocaram muito mais danos ao mundo foram julgados. Como defensor da Civilização (com c maiúsculo) não podemos cair na armadilha do famigerado e bárbaro “olho por olho, dente por dente”. De que adiantou os ensinamentos de Cristo? Não há necessariamente um aspecto religioso em defendermos a Solidariedade, o Humanismo e o respeito à Civilização. Trata-se da evolução da sociedade.
Para que então o Direito Internacional, o Tribunal Penal Internacional, a ONU etc.? Para que isso? Para agirmos como pistoleiros, bandidos contra os criminosos que já estão enquadrados na Lei? E países como França e EUA, por exemplo, cinicamente saudarem a “volta da democracia” sem questionar a instalação de uma nova quadrilha em Trípoli?
Certo está o Brasil em não “vibrar” com algo abjeto. Apoiar tais atos é desrespeitar os Direitos Humanos. Quem defende a Civilização e os seus mecanismos de controle da barbárie, não pode concordar com isso. Eu, particularmente não quero ser parecido com os ditadores. Por isso não apoio tais atos.
Aos criminosos, o julgamento. Aos cínicos e demagogos, a mácula em sua história.