A elite brasileira está mais uma vez deseperada em sua versão diplomática. Nada dá certo para ela: todas as notícias são boas para o Brasil. Além da derrota de José Serra e do projeto político (?) do PSDB, mais um golpe contra a diplomacia do “Sim, senhor”.
O nosso já histórico chanceler Celso Amorim – que superou a permanência no cargo do Barão do Rio Branco – , além de ter sido eleito o melhor na sua área pela revista conservadora norte-americana Foreign Affairs, agora é o sexto “Pensador Global” eleito pela igualmente norte-americana revista Foreign Policy. A lista possui cem pessoas.
A eleição coroa o reconhecimento internacional do papel do Brasil nos últimos oito anos. Nada de subserviência, nada de “Sim, senhor”. A diplomacia brasileira que desde o Barão do Rio Branco já era reconhecida por sua grande competência, ganhou notoriedade nos últimos anos por defender a posição do Brasil no cenário internacional através de postulados éticos importantes em tempos de beligerância unilateral: a multipolaridade, a recusa à guerra e a defesa dos organismos internacionais.
Contudo, alguns especialistas brasileiros procuram de todas as maneiras “rebaixar” os avanços numa perspectiva de mesquinhez muito triste. Ao invés de trabalharmos com a imagem do Brasil exterior como um grande trunfo, internamente criam-se “análises” hipócritas e demagógicas sobre assuntos que de modo geral não alteram os postulados básicos do Itamaraty.
A ladainha mais lida e ouvida é sobre as “relações com o Irã”. Colocam o Brasil como se fosse adepto do “banditismo islâmico”. Acusam o Brasil de não “respeitar os direitos humanos”. Geralmente quem faz tais acusações são os que menos respeitam os direitos humanos: torturam, prendem e matam pessoas sem acusações formais. Mas, a imprensa brasileira e alguns intelectuais se omitem descaradamente sobre tais fatos.
Que o Irã possui “problemas” todos nós sabemos. Certamente não concordamos com inúmeros tópicos do regime iraniano. Mas, isolarmos os Irã por causa de determinados temas contraria toda a lógica na minha opinião. Se levarmos em conta as “análises” dos especialistas e de parte da imprensa brasileira, teremos que cortar relações com os EUA. Se o tema for Direitos Humanos seremos obrigados a expulsar o corpo diplomático dos EUA. Não há meio termo sobre o tema: respeita-se ou não.
E fica uma pergunta: se os EUA são realmente defensores dos Direitos Humanos porque não cortam relações totais com a China, o grande simbolo da barbárie segundo o mundo democrático ocidental?
Como já apontei anteriormente, os Direitos Humanos não importam na realidade para a grande potência e para quase todo o planeta. Uma coisa é importante: o dinheiro. Se a acumulação de capital for possível sem a morte de seres humanos, melhor. Caso contrário, é estatística.
Viva a coerência.