Antonio Patriota é o nome mais cotado para o Itamaraty
Bárbara Ladeia (bladeia@brasileconomico.com.br)
23/11/10 15:54
O embaixador estudou Filosofia na Universidade de Genebra mas fez sua carreira no Itamaraty, onde atua desde a década de 70
Apesar de ser considerado muito jovem para o cargo, o atual secretário-geral do Ministério das Relações Exteriores tem sido apontado como predileto da presidente eleita Dilma Rousseff.
Em meio às especulações em torno da composição do ministério de Dilma Rousseff, um nome tem sido apontado como praticamente certo para a pasta das Relações Exteriores. Aos 56 anos, Antonio Patriota, atual secretário-geral da casa tem sido apontado como principal indicado ao posto.
“Ele já vinha na cola do ministro Celso Amorim há um tempo”, sinaliza José Alexandre Haje, professor de política externa brasileira da faculdade de Economia da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap). “Não é por acaso que ele tem sido apontado como o mais cotado.”
Recentemente, o presidente Lula sinalizou o desejo de que alguém da casa assumisse o posto de Amorim. Mais concentrada na agenda interna, é natural que a próxima presidente, Dilma Rousseff, siga a orientação de seu antecessor.
O embaixador estudou Filosofia na Universidade de Genebra mas fez sua carreira no Itamaraty, onde atua desde a década de 70. Patriota atuou, entre 2007 e 2009, na embaixada de Washington, considerada uma das mais importantes para a casa.
Apesar da rápida ascensão na carreira, a pouca idade de Patriota tem sido levantada como um dos fatores contra a sua chegada ao cargo de chanceler. “Isso também foi questionado quando ele assumiu a embaixada em Washington”, a aponta Denilde Holzhacker, professora do curso de Relações Internacionais da ESPM. “Há uma certa desconfiança quanto à maturidade dele por conta da pouca idade, mas a indicação dele para o Itamaraty sinalizaria uma mudança dentro da casa, o que seria muito bom para a imagem do ministério.”
Além da forte aproximação com o atual ministro, por diversas vezes Patriota acompanhou Dilma Rousseff em suas visitas aos Estados Unidos. “Ele é muito próximo de Dilma”, afirma a professora. “Ela não tem muito domínio desse setor internacional e conhece ele, conhece o trabalho dele pessoalmente. Isso conta muito a favor da indicação dele para o ministério.”
Mulheres
No sentido contrário, no entanto, pesam as recentes declarações da presente Dilma Rousseff de que gostaria de ter uma mulher ocupando o cargo. No entanto, a escassez de figuras femininas no Ministério das Relações Exteriores levam a poucas possibilidades para o cargo.
Caso a presidente se atenha a esse pré-requisito para o ministério, a economista Maria Viotti, seria a mais qualificada para o cargo. “São muito poucas mulheres no Itamaraty, seria uma inovação muito grande a para a política nacional. Uma forma de reforçar a agenda de gênero que tem sido proposta pela presidente”, destaca Denilde.
Maria Luiza Viotti também tem 56 anos e sua formação na área de Economia reforçaria a agenda econômica, que deve ser privilegiada no planejamento de política externa do governo Dilma. Maria Luiza atua no Itamaraty desde a década de 70 e atualmente é representante permanente do Brasil na Organização da Nações Unidas (ONU).
“Ela somaria o perfil técnico, muito valorizado pelo discurso de Dilma, e a experiência de quem atuou na ONU e, portanto, conhece muito bem o funcionamento das negociações com diversos países”, destaca Denilde.
Segurança
Outro nome que tem sido mencionado para o cargo é o de Nelson Jobim, atual Ministro da Defesa. A ascensão de alguém ligado ao setor de segurança ao Itamaraty reforçaria o que hoje é considerado o calcanhar de Aquiles do Brasil no que tange o posicionamento do país como uma potência mundial.
“Criaria uma ligação entre a Defesa e o Ministério das Relações Exteriores e, portanto, fortaleceria esse trabalho de ampliar a atuação do país em questões relacionadas a segurança”, afirma Denilde. Atualmente, o país tem se envolvido em poucas missões pacificadoras, sendo a do Haiti a mais relevante.
No entanto, para Denilde, o governo não tem verbalizado nenhuma intenção de trabalhar esse aspecto, tendo na agenda econômica seu principal foco. “Existem temas relevantes ligados a segurança como as questões de fronteiras, recursos hídricos ou mesmo o pré-sal, que serão debatidos nos próximos anos, mas o governo ainda não abordou uma intenção de trabalhar nesse sentido.”
Continuidade
Para Charles Pennaforte, diretor geral do Centro de Estudos em Geopolítica e Relações Internacionais (Cenegri), a presidente tentará manter “as linhas mestras” do governo Lula no que tange a condução da política externa. “Independente do nome que for anunciado para a pasta, Dilma vai tentar manter as mesmas práticas do governo Lula”, afirma.
A nova presidente, no entanto, não deve gozar de tamanho prestígio no cenário internacional. “Não foi possível detectar um grande líder como Lula em nenhum dos candidatos”, ressalta.