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Mercosul está dominado pela questão política

No ano em que completa um quarto de século de existência, o Mercosul está dominado pela questão política.

No ano em que completa um quarto de século de existência, o Mercosul está dominado pela questão política. A avaliação é do Professor Charles Pennaforte, do Centro de Integração do Mercosul da Universidade Federal de Pelotas, no Rio Grande do Sul, e diretor-geral do Cenegri – Centro de Estudos em Geopolítica e Relações Internacionais.

Charles Pennaforte, que em 5 de outubro lançará o livro “Mercosul 25 Anos: Impasses, Avanços e Perspectivas”, escrito em parceria com a Professora Maria de Fátima Bento Ribeiro, lastima que o bloco econômico sul-americano esteja dominado por questões políticas:

“Lamentavelmente, as discussões em torno da Venezuela tomaram conta dos debates no Mercosul. Sob a liderança do Brasil, em particular do ministro das Relações Exteriores, José Serra, a Argentina, o Paraguai e o Uruguai decidiram em conjunto que a Venezuela não assumirá, como lhe competiria neste momento, a presidência do bloco, sendo esta exercida por um colegiado dos quatro países fundadores do Mercosul: Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.”

Pennaforte explica que “o Uruguai encerrou o seu mandato presidencial rotativo mas não transmitiu o cargo para a Venezuela, que, por não ter cumprido as exigências para se tornar membro pleno e efetivo, não pôde assumir a presidência. A Venezuela, por sua vez, vive um momento de enormes dificuldades políticas e econômicas, que dificilmente serão sanadas pelo Presidente Nicolás Maduro. Estas dificuldades já vinham sendo enfrentadas pelo seu antecessor, Hugo Chávez, e com Maduro elas assumiram proporção ainda mais grave. Então, hoje o Mercosul é um bloco dominado pela questão política, que envolve abertamente a permanência da Venezuela.” Para o Professor Charles Pennaforte, não se pode descartar a hipótese de que esteja em curso uma articulação para que a Venezuela seja definitivamente excluída do Mercosul.

O Governo de Nicolás Maduro tem prazo até 1 de dezembro deste ano para sanar todas as pendências, meta considerada muito difícil de ser cumprida: “Não sei se podemos falar de uma intenção deliberada de excluir definitivamente a Venezuela do Mercosul, mas o fato é que as posições do Presidente Michel Temer, do Ministro José Serra e do presidente da Argentina, Mauricio Macri, convergem para a mesma direção. A todo momento, os Governos do Brasil e da Argentina miram seu foco no Palácio Miraflores (sede do Governo venezuelano) e explicitam suas posições contrárias às atitudes de Nicolás Maduro. No meu entender, o Governo venezuelano aproxima-se do seu crepúsculo, e disto estão se valendo os governantes sul-americanos contrários ao posicionamento político-ideológico do líder da Venezuela.”

Sobre as perspectivas do Mercosul, Charles Pennaforte é claro: “Acredito que a tendência do Mercosul é de se enfraquecer, como aconteceu nos anos 90, mas adiante poderá se revigorar. A tendência neste momento é de que, enfim, seja firmado o tão sonhado acordo de cooperação com a União Europeia, em detrimento da política de regionalismos que prevaleceu até aqui, estimulada pelos Governos de Lula e Dilma Rousseff no Brasil e dos Kirchner (Néstor e Cristina) na Argentina.”

Finalmente, o especialista Charles Pennaforte adverte que “os governantes sul-americanos precisam avaliar até que ponto é importante e representará ganhos esta aproximação com a União Europeia”. “No bloco europeu, há resistências a esta aproximação com a América do Sul, porque há uma percepção pelos europeus de que seus produtores rurais e empresários poderão sofrer perdas. E o Brasil, que está entre as maiores economias do mundo, precisa refletir muito bem sobre a posição que irá adotar, para evitar danos à sua economia.” O livro de Charles Pennaforte e Maria de Fátima Bento Ribeiro (“Mercosul 25 Anos: Impasses, Avanços e Perspectivas”) tem colaborações de professores latino-americanos analisando passado, presente e futuro do Mercado Comum do Sul.

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