“Os EUA não permitirão uma alteração radical no CS da ONU”
A opinião é de Charles Pennaforte, a respeito das aspirações de Índia e Brasil em relação ao Conselho.
A pretensão do Brasil vem sendo manifestada desde o primeiro Governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Já a vontade da Índia foi manifestada pelo Primeiro-Ministro Narendra Modi às vésperas da instalação da 70.ª Assembleia-Geral das Nações Unidas, em sua sede, em Nova York.
Professor de Relações Internacionais da UNIP – Universidade Paulista e diretor do Cenegri – Centro de Estudos em Geopolítica e Relações Internacionais, instituto com sede no Rio de Janeiro e dedicado aos estudos da América Latina em relação aos demais países, Charles Pennaforte falou com exclusividade para a Sputnik Brasil na entrevista a seguir.
Sputnik: O que lhe parece esta aspiração de Índia e Brasil de integrarem, como membros permanentes, com poder de veto, o Conselho de Segurança da ONU?
Charles Pennaforte: Acredito que são reivindicações legítimas de duas grandes nações. O principal aspecto que se deve mencionar é que o atual Conselho de Segurança da ONU faz parte do contexto da Guerra Fria. Já que há mais de 20 anos conseguimos ultrapassar essa fase histórica, é natural que o Conselho sofra algumas alterações. O Brasil postula em face de sua liderança internacional, de não estar ligado a grandes guerras no século XX, e tem uma postura muito interessante. A Índia é um país nuclear que também postula legitimamente sua entrada. Contudo, analisando pelo aspecto realista, seria complicada a sua entrada porque alteraria a correlação de forças do Conselho de Segurança. Este é um ponto que devemos ter sempre em mente, porque principalmente os EUA vão sempre bloquear, dentro das suas possibilidades, qualquer alteração. Brasil e Índia – seriam dois membros dos BRICS, trariam mais influência geopolítica dos BRICS, e isto, logicamente, não interessa a Washington. É uma postulação de longo prazo. Só mesmo o enfraquecimento geopolítico dos EUA poderia facilitar isso, ou a ocorrência de um fato extraordinário, mundialmente falando, que possibilitasse a entrada.
S: O senhor acredita que ainda não será desta vez que Índia e Brasil terão estas suas reivindicações atendidas pelos demais membros do Conselho de Segurança da ONU, para que se tornem membros efetivos desta instância?
CP: Sim, porque o principal interessado neste xadrez geopolítico são os EUA, e para eles não interessa essa alteração no quadro, porque mudaria tudo. Com quatro países do BRICS dentro do Conselho de Segurança da ONU [Brasil, Rússia, Índia e China], por mais que eles tenham divergências, em algum momento poderia existir, em algum tópico específico, uma confluência de interesses. Isso geraria uma derrota, de certo modo, para os interesses de Washington.
S: Com esta dinâmica do mundo atual, a situação poderá mudar em curto prazo?
CP: A Federação Russa é a maior preocupação dos EUA. O ressurgimento da Rússia é um grande ponto geopolítico dessa segunda década do século XXI. Ela constrói um polo alternativo à hegemonia americana dentro da realidade atual. E o BRICS é um golpe mais importante ainda, porque certamente vai enfraquecer essa hegemonia dos EUA. Daí a preocupação de não tentar colocar em prática algum tipo de postulação que mais à frente garanta à Rússia e ao BRICS uma supremacia.
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