Para o doutor em Relações Internacionais Charles Pennaforte, a aproximação entre Brasil e Cuba deve ser vista como uma oportunidade de negócios, e não simplificada de forma ideológica
Rafael Geyger (PORTAL TERRA)
25 de novembro de 2014 • 10h25 • atualizado às 12h44
Longe de ‘destino político’, Cuba é oportunidade de negócios
De olho na abertura do mercado de Cuba, o Brasil investe na ilha dos irmãos Castro. Em 2013, os negócios entre os dois países ofereceram ao Brasil um saldo positivo de US$ 431,6 milhões. Neste ano, de janeiro a outubro, o superávit já é de US$ 368,9 milhões. As proximidade econômica com a ilha caribenha aparece também ao analisar as exportações nos últimos dez anos. De 2004 a 2013, as vendas a Cuba cresceram 300%. No mesmo período, os negócios com os Estados Unidos, segundo maior comprador dos produtos brasileiros, subiram bem menos: 22,6%. Os dados são da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento.
Para o doutor em Relações Internacionais Charles Pereira Pennaforte, diretor-geral do Centro de Estudos em Geopolítica e Relações Internacionais, a aproximação entre Brasil e Cuba deve ser vista como uma oportunidade de negócios, e não simplificada de forma ideológica. Ele destaca os resultados da Feira Internacional de Havana, no início do mês, que rendeu US$ 120,5 milhões às 45 empresas brasileiras participantes. Na oportunidade, o país foi premiado pelos organizadores como aquele que mais ampliou sua presença no evento.
O interesse no mercado cubano cresce desde o primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em 2003, quando Lula ingressou no Planalto, as exportações para Cuba somaram cerca de US$ 70 milhões e, desde então, só tiveram seu crescimento interrompido em 2013, quando caíram 7,03%, mas ainda assim alcançaram quase US$ 530 milhões em negócios. Na última década, as importações brasileiras de produtos cubanos também aumentaram, com 113% mais compras.
Recentemente, a parceria entre os dois países apareceu em outras áreas, a exemplo do aporte financeiro de US$ 682 milhões do BNDES para empresas brasileiras na construção do Porto de Mariel, uma aposta para o futuro, e do programa Mais Médicos, que importou médicos cubanos e cujo orçamento para 2014 alcança R$ 1,9 bilhão.
Cuba, o “tubarão caribenho”
Em artigo escrito na década passada, Pennaforte já chamava Cuba de “Tubarão Caribenho” – numa referência aos chamados “Tigre Asiáticos”, que experimentaram uma importante taxa de crescimento e de industrialização entre as décadas de 60 e 90. Ele aposta que tal potencial será ampliado quando os Estados Unidos colocarem fim ao bloqueio comercial com a ilha, que já dura 52 anos.
“Uma hora, o embargo vai ser levantado”, aposta. “Quem é empresário sabe que há lá uma mão de obra altamente qualificada, escolaridade elevadíssima, violência praticamente zero, um governo centralizador e tudo isso confirma um bom ambiente para o investimento”, completa. Em sua análise, o Brasil será beneficiado com a maior abertura do mercado em Cuba, pois já faz negócios com o país, em especial desde que reestabeleceu relações diplomáticas, em 1986.
O entendimento é o mesmo da doutora em Integração da América Latina Regiane Nitsch Bressan, professora da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), que também aposta que o fim do bloqueio econômico imposto pelos EUA a Cuba impactará de forma positiva no comércio da ilha com seus parceiros. “A estratégia brasileira de se aproximar do país e estabelecer um fluxo comercial contínuo antes do fim desse bloqueio é muito importante para assegurarmos esse mercado”, afirma.
Regiane avalia que o peso econômico e a potencialidade que o Brasil vem apresentando nas últimas décadas na região impulsiona que o país seja um parceiro comercial não somente de Cuba, mas de uma gama de nações onde tradicionalmente os EUA mantêm predomínio comercial. Além do enfraquecimento no embargo americano, ela considera que o potencial de Cuba para as exportações brasileiras aparece também na limitação da ilha quanto a recursos naturais e na produção industrial. “Atualmente, várias empresas brasileiras estão comercializando de forma muito expressiva e relevante em alguns segmentos do mercado cubano, por exemplo, a Bombril no setor de produtos de limpeza, e a Azaléia no segmento de calçados”, cita.
De forma lenta e gradual, à margem do embargo, Cuba vem abrindo sua economia nos últimos anos. Hoje os cubanos podem, por exemplo, comprar dispositivos eletrônicos e aparelhos celulares, ficar em hotéis e comprar e vender carros usados – luxos absolutamente vetados até poucos anos atrás.
Apex-Brasil defende investimentos em Cuba
Cuba é sede do escritório para América Latina e Caribe da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil ). Conforme seu Gerente Executivo de Imagem e Acesso a Mercados, Rafael Prado, a expectativa de incremento nos negócios com a ilha é positiva, tendo em vista o crescente saldo na balança comercial brasileira.
Ele destaca que a agência produz estudos de inteligência comercial que identificam oportunidades de negócios para o Brasil. Dessa forma, o mercado cubano é visto como de grande demanda por produtos que empresas brasileiras produzem com preços competitivos.
Cuba é o segundo maior destino das exportações brasileiras na América Central e Caribe, atrás apenas do Panamá. Entre os principais produtos comprados do Brasil em 2013, estão: óleo de soja refinado, arroz, milho, carne de frango in natura, farelo de soja, café cru, papel, calçados, máquinas e aparelhos de uso agrícola e móveis.
Como atrativos para os investimentos brasileiros, Prado cita o porto cubano (com capacidade de movimentação de 1 milhão de contêineres), a nova Lei de Investimento, uma Zona Especial de Desenvolvimento, boa localização, proximidade cultural e necessidades por produtos que o Brasil fabrica. Ele destaca ainda que o PIB cubano só fica atrás do território estadunidense de Porto Rico. “Esse é um cenário muito interessante para as empresas brasileiras, que encontram espaço para suas vendas no país”, conclui.
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