O presidente argentino, Alberto Fernández, solicitou à China e à Rússia a entrada da Argentina no BRICS. A Sputnik Brasil ouviu especialistas em Relações Internacionais sobre o assunto, que apontaram que Brasil e Argentina podem se beneficiar de uma eventual parceria no grupo.
No início deste mês, o presidente argentino, Alberto Fernández, esteve em momentos distintos com o presidente russo, Vladimir Putin, e com o presidente chinês, Xi Jinping. Em ambas as oportunidades, o líder argentino pediu apoio para a adesão da Argentina ao BRICS.O grupo criado em 2009 é atualmente composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Conforme publicado pelo jornal Folha de São Paulo, o Itamaraty não confirma nenhuma tratativa oficial sobre a ampliação do grupo, mas ressalta que não existe um mecanismo formal de adesão. Ao jornal, interlocutores do Planalto relataram incômodo com a possibilidade. O tema também não foi citado diretamente pelo Kremlin no comunicado prévio sobre a reunião do presidente russo Vladimir Putin com o presidente brasileiro Jair Bolsonaro (PL), realizada nesta quarta-feira (16). O documento cita a discussão de aspectos do fortalecimento da parceria estratégica Brasil-Rússia e a “troca de opiniões sobre questões internacionais relevantes”. Após o encontro um comunicado conjunto cita apenas a necessidade de fortalecimento do bloco. A atual gestão brasileira tem em Fernández um desafeto político e ambos os presidentes já trocaram farpas. Se por um lado Bolsonaro não esconde sua antipatia por seu equivalente argentino, Fernández, por sua vez, é abertamente apoiador do principal adversário do brasileiro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Argentina no BRICS pode ajudar Brasil e Mercosul
Para o pesquisador Charles Pennaforte, professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e coordenador do Laboratório de Geopolítica, Relações Internacionais e Movimentos Antissistêmicos (LabGRIMA), uma eventual adesão da Argentina aos BRICS pode ter como consequência o fortalecimento do Mercosul. “Sob o ponto de vista de inserção internacional, o BRICS é uma plataforma de atuação geopolítica brasileira. A Argentina, que não possui inserção alguma na atualidade, seja econômica ou geopolítica, vê o BRICS como uma forma de aumentar a sua participação internacional. Para o Brasil, uma Argentina dinâmica, principalmente no aspecto econômico, fortalece o Mercosul e a sua capacidade de aumentar a sua participação no comércio internacional”, avalia o professor em entrevista à Sputnik Brasil. Pennaforte aponta que há diferenças entre o BRICS e o Mercosul, sendo o primeiro “um projeto geopolítico para a nova ordem internacional que está em transição”. Segundo o pesquisador, a aproximação entre os dois blocos, principalmente entre a China e o Mercosul, pode abrir uma série de oportunidades.
“Logicamente, os acordos econômicos não são tão simples de serem feitos. Envolvem inúmeras variáveis, principalmente para países que não possuem tecnologia de ponta ou não produzem produtos de alto valor agregado. Lamentavelmente, nos últimos 30 anos, as lideranças políticas dos países-membros do Mercosul pouco fizeram para alterar a dependência das commodities. Contudo, quando o bloco se aproxima de estruturas mais dinâmicas é possível que haja uma ‘contaminação positiva'”, explica Pennaforte. Para o pesquisador, a iniciativa argentina no campo internacional parte da necessidade de Buenos Aires de resolver as causas de sucessivas crises internas que assolam o país. Com a aproximação de estruturas como o BRICS e a Nova Rota da Seda chinesa, o país procura alternativas. “A nova postura argentina faz parte da constatação da realidade do país: não é possível viver todo o tempo em crise econômica e na dependência das mesmas estruturas financeiras do século passado, ou seja: FMI, EUA, Europa. Já era tempo da Casa Rosada se mover no tabuleiro geopolítico e financeiro em busca de novas fontes de financiamento e parcerias”, aponta. Nesse sentindo, Pennaforte ressalta que o BRICS é um caminho razoável para o crescimento argentino e dessa forma o Brasil também pode se beneficiar. “Só o Banco do BRICS representa, na minha concepção, a maior alteração na ordem econômica internacional desde o surgimento da arquitetura financeira pós-Bretton Woods: FMI, Banco Mundial etc. O mundo está mudando e os argentinos já notaram isso. Como assinalei acima: para o Brasil, uma Argentina forte é vital para o Mercosul. Todos ganham”, conclui. Publicado no Sputnik Brasil Brasil e Mercosul podem se beneficiar de eventual adesão da Argentina ao BRICS, diz pesquisador – 16.02.2022, Sputnik Brasil (sputniknews.com)